A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio respiratório comum, mas frequentemente subdiagnosticado, que afeta a qualidade do sono e, consequentemente, a saúde como um todo. Ela é caracterizada por pausas repetidas na respiração durante o sono devido à obstrução das vias aéreas superiores. Esses episódios causam quedas no nível de oxigênio no sangue (hipoxemia) e fragmentam o sono, prejudicando sua qualidade e seu efeito restaurador.
Principais Sintomas
Os sintomas mais comuns incluem:
- Ronco alto e frequente
- Sonolência excessiva durante o dia
- Despertares noturnos com sensação de sufocamento
- Fadiga, irritabilidade e dificuldade de concentração
Em muitos casos, o paciente não percebe os sintomas — quem nota primeiro são os familiares ou parceiros, devido ao ronco intenso ou pausas respiratórias visíveis durante a noite.
Por Que a Apneia do Sono Merece Atenção?
A apneia obstrutiva do sono (AOS) está associada a diversas condições graves, como:
- Hipertensão arterial
- Fibrilação atrial
- Insuficiência cardíaca
- Doença coronariana
- Diabetes tipo 2
- Acidente vascular cerebral (AVC)
Por isso, diagnosticar e tratar a apneia do sono é essencial não apenas para melhorar o sono, mas também para prevenir e tratar complicações cardiovasculares e metabólicas.
Tratamentos Disponíveis
O objetivo do tratamento é reduzir os eventos de apneia durante a noite e melhorar a qualidade de vida e bem estar do paciente. As opções incluem:
1. CPAP (sigla em inglês para Continuous Positive Airway Pressure ou Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas)
É o tratamento padrão ouro, ou seja de primeira escolha, de acordo com a literatura.
O CPAP é um aparelho que, através de uma máscara – preferencialmente nasal – gera um fluxo de ar positivo nas vias aéreas e mantém as vias respiratórias abertas durante o sono. Embora a adaptação inicialmente possa ser desafiadora em alguns casos, com orientação adequada e ajustes no aparelho é possível melhorar o conforto e manter o uso regular.
Ele está indicado principalmente para casos de apneia moderada a grave.
A adesão e boa adaptação ao CPAP é fundamental para o sucesso do tratamento.
2. Cirurgias
A cirurgia é uma opção de tratamento para a apneia obstrutiva do sono (AOS), especialmente indicada em casos selecionados.
As intervenções cirúrgicas têm como objetivo principal corrigir as obstruções anatômicas que contribuem para o colapso das vias aéreas durante o sono.
Quando a cirurgia é indicada?
A avaliação para cirurgia é feita de forma individualizada, sendo algumas indicações:
- Apneia leve a moderada com alterações anatômicas identificadas;
- Necessidade de correção de fatores estruturais, como desvio de septo, hipertrofia de amígdalas ou base de língua aumentada;
- Intolerância ao CPAP, mesmo após tentativas de adaptação;
- Apneia posicional ou multissegmentar que não responde bem a outras terapias.
Principais tipos de cirurgia utilizados no tratamento da AOS:
I. Septoplastia e cirurgia funcional nasal
Corrigem desvios de septo e outras obstruções nasais, como as hipertrofias de cornetos, que dificultam a respiração. Embora não curem a apneia isoladamente, reduzem a resistência nasal, melhoram os sintomas de obstrução nasal e a adaptação ao CPAP.
II. Cirurgias Faríngeas (Uvulopalatofaringoplastia ou Faringoplastia de Expansão)
Esse tipo de cirurgia é indicada quando há obstrução na região da garganta (faringe), identificada por critérios clínicos e anatômicos. O objetivo é ampliar o espaço por onde o ar passa durante o sono, reduzindo os episódios de apneia. Geralmente, o procedimento envolve a remoção do excesso de tecido mole da faringe, e o reposicionamento da musculatura local, promovendo maior abertura das vias aéreas superiores. Isso ajuda a prevenir o colapso das estruturas na região da garganta durante o sono.
III. Amigdalectomia (remoção das amígdalas)
Indicada especialmente em pacientes com amígdalas volumosas, que contribuem para a obstrução da via aérea superior.
IV. Cirurgia de avanço mandibular ou maxilomandibular
Realizada principalmente em pacientes com alterações esqueléticas importantes (como retrognatismo). Reposiciona os ossos faciais para ampliar o espaço da via aérea.
Considerações importantes:
- A escolha da cirurgia depende da causa específica da obstrução, identificada por meio do exame físico e exames complementares, como a nasofibroscopia, polissonografia, tomografia computadorizada de seios paranasais e sonoendoscopia (exame de nasofibroscopia com sono induzido).
- Em muitos casos a cirurgia não substitui o CPAP, mas melhora a sua eficácia ou viabiliza o uso.
- A cirurgia deve ser realizada por um especialista com experiência em sono e via aérea superior, como o otorrinolaringologista com atuação em distúrbios do sono.
A decisão cirúrgica é sempre individualizada, considerando o estado de saúde global do paciente, a anatomia, a gravidade da apneia, a resposta a outros tratamentos, as condições clínicas e os objetivos do paciente. Uma avaliação detalhada é essencial para definir a melhor conduta.
3. Dispositivos Intraorais
Os aparelhos intra-orais de avanço mandibular são indicados para casos leves a moderados e funcionam reposicionando a mandíbula para manter as vias aéreas desobstruídas.
São indicados para os pacientes que apresentam critérios anatômicos favoráveis para este caso.
4. Mudanças no Estilo de Vida
A perda de peso em pacientes com sobrepeso ou obesidade pode melhorar significativamente os episódios de apneia. Além disso, evitar o consumo de álcool e sedativos antes de dormir também é recomendado.
5. Terapia Posicional
Indicada para quem apresenta apneia predominantemente ao dormir de costas. Consiste em técnicas e dispositivos que ajudam o paciente a manter uma posição lateral durante o sono.
6. Estimulação do Nervo Hipoglosso
É uma opção moderna e eficaz para pacientes com apneia moderada a grave, IMC abaixo de 32 e que não conseguem se adaptar ao CPAP.
Além disso, a avaliação clínica com endoscopia do sono é utilizada para determinar se as características anatômicas do paciente são adequadas para este procedimento.
Importante: Atualmente, não existem medicamentos eficazes aprovados para o tratamento da apneia obstrutiva do sono.
Conclusão
A apneia do sono vai muito além do ronco. É uma condição de saúde séria, com impacto direto na qualidade de vida e no risco de doenças crônicas.
O diagnóstico e o tratamento adequado, conduzidos por um especialista, são fundamentais para garantir noites de sono restaurador e uma vida mais saudável.
Se você se identifica com os sintomas ou conhece alguém que possa estar sofrendo com apneia do sono, agende uma avaliação. O tratamento pode transformar sua qualidade de vida.